"Não há futuro para quem não inovar"
Em entrevista especial, Silvio Meira (especialista em inovação e cientista-chefe do Centro de Estudos Avançados do Recife) fala sobre a relação em empreender, inovar e competir.
O que é inovação?
Inovação é o descontentamento com alguma coisa que já está estabelecida. A necessidade de inovar geralmente surge quando descobrimos que não gostamos da maneira como as coisas estão. Pode ser um comportamento, um produto ou até um modelo de negócio. Inovação é a criatividade com qualidade. Às vezes é mudar as coisas que já existem, o que chamo de “gambiarra”. A maior parte das inovações são “gambiarras”.
Qual o perfil do inovador?
Inovador é aquele que está disposto a mudar alguma coisa. Aquele que sabe que na ponta tem cliente e que vai fazer alguma coisa que alguém vai usar. O inovador entende que as pessoas não vão atrás da novidade pura e simplesmente. Inovador é aquele que está disposto a desaprender aquilo que já sabe fazer para fazer alguma coisa que não sabe.
Qual o futuro da tecnologia?
É sempre mais fácil inventar o futuro que prever. A evolução é muito rápida. Uma coisa é fato: vai ter mais informática em tudo.
Como a inovação pode influenciar o desenvolvimento dos negócios?
O futuro em curto prazo para os negócios que não inovam é o grande cemitério dos CNPJs. Isto vale do pipoqueiro às megaempresas de tecnologia. Existe uma dinâmica no contexto competitivo que vem acelerando nos últimos tempos. Os modelos de negócios que pareciam absolutamente estáveis há 10 anos estão entrando em colapso. A BlockBuster foi à falência nos EUA na última semana. E já foi no Brasil há bem mais tempo. Hoje só faz sentido ter uma locadora de vídeos se você tiver vídeos muito especiais. A locadora parecia um modelo de negócio absolutamente estável. Mas a empresa não soube se reescrever na nova realidade. Quando você olha para trás e protege o passado, não consegue construir o futuro.
Como inovar de maneira barata e efetiva?
Nunca houve tanto recurso para inovar no Brasil como agora, mas é bom lembrar que nem toda inovação precisa ser cara. Ela precisa ser bem feita. Inovação é criatividade com qualidade. Tem coisas absolutamente geniais, como o escorredor de arroz, uma patente brasileira com mais de 30 anos. A inovação foi de uma senhora, uma cozinheira que estava preocupada em secar seu arroz. Por este exemplo fica claro que não estamos falando de coisas magníficas e gigantescas, mas de usabilidade.
Qual a relação de competitividade e inovação?
Inovação é a única fonte sustentável de competitividade. Porque se você não muda para se adaptar ao contexto, necessariamente se tornará menos competitivo.
Qual a dica para melhorar as vendas usando a inovação e a tecnologia?
Entenda seu cliente. Seja absolutamente focado nos clientes, nas necessidades, nas demandas, no sofrimento e nas dificuldades que ele tem. O que a empresa faz, quando faz bem, é agregar valor ao cliente.
Os micro e pequenos negócios conseguem agregar este valor?
Depende. Eu conheço empresários que têm pequenos negócios com um nível de agregação de valor muito grande. O empresário não deve pensar no negócio como ponto de chegada, mas como ponto de partida. Você monta uma lojinha de café na esquina e tem que pensar em competir com a Delta Café, uma das maiores redes de cafeteria da Europa que está chegando no Brasil. Os pequenos têm que ser extremante diferenciados para conseguir isto.
As empresas estão aproveitando os recursos disponíveis para inovação?
Nunca houve tanto dinheiro no Brasil como hoje, mas para que as pessoas consigam fazer propostas inovadoras com o dinheiro que existe é preciso investir em educação. Hoje há mais dinheiro que projetos com qualidade. Tem projetos com qualidade abaixo da média que estão sendo financiados.
Fonte:
http://www.mg.agenciasebrae.com.br/noticia.kmf?canal=698&cod=10609320